terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Reflexão sobre a 3.ª Sessão PPEB 11/12-02-2010

Reflexão sobre a 3.ª Sessão PPEB

Antes de mais fica aqui o meu protesto em relação à avaliação dos formandos apresentada na sessão passada, “Quem não se sente não é filho de boa gente” já diziam os nossos antepassados. As regras deveriam ser bem claras no início da Formação, o que a meu ver não aconteceu. E como não sou homem para dizer por terceiros aquilo que sinto, disse-o presencialmente para quem quis ouvir e digo-o aqui, por escrito, para que não restem dúvidas das minhas intenções. Contudo, não estou a pôr em causa o trabalho árduo que os formadores têm tido, nem a forma competente e profissional como nos têm ministrado esta Formação. Provavelmente, outras entidades terão esse ónus…

Também não quero deixar passar em claro que alguns dias depois de termos concluído a 3.ª sessão nos tenha chegado aos ouvidos que todo este trabalho poderia ir por água abaixo, o que seria, a meu ver, um escândalo. Ainda bem que temos pessoas de bom senso na Secretaria Regional de Educação e Formação. Ainda assim, a não implementação deste novo Programa de Português no próximo ano lectivo, causou alguma perplexidade no seio dos docentes que estão a receber as respectivas replicações. Quase que nos fica a ideia que andam a brincar com quem quer trabalhar e leva estas coisas da educação a sério.
Ora bem, vamos deixar de carpir e arregacemos as mangas, pois espera-nos ainda muito trabalho. Assim, a minha reflexão sobre a 3.ª sessão não pretende ser pretensiosa ao ponto de elencar situações que tenham o rotulo de novidade. No entanto, vou tentar demonstrar o que estas novas práticas poderão trazer para que haja um sucesso educacional sustentável. Quer se goste ou não de estatísticas, elas dão-nos uma visão alargada de que os alunos portugueses manifestam dificuldades significativas na leitura e interpretação de textos informativos e que têm menos problemas perante textos narrativos. Isto não é novidade, já que a interpretação do anterior Programa de Português por parte das editoras elegeram o texto narrativo como ex-libris ou coluna dorsal das práticas educacionais. Logo, os alunos interiorizaram essas práticas ao longo de vários anos lectivos, como se costuma dizer “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Ora também nas minhas práticas lectivas não me posso escusar, pois esse cenário está presente. Será que até aqui estivemos todos errados? Bem, não acredito! Mas admito que os manuais escolares limitam os papéis do professor e do aluno na relação interpretativa com os textos a ler. Assim, o novo Programa de Português aponta para uma utilização de maior diversidade de tipologia de textos, isto potenciará a importância de experiências de aprendizagem significativas e desafiadoras que levarão os alunos para patamares de maior complexidade e eficácia leitora. Isto é bem verdade, mas também é verdade, e estou plenamente de acordo, que este contacto com uma diversidade de textos e de suportes da escrita, incluindo os que são facultados pelas novas tecnologias, não devem afastar os textos literários nas suas práticas de leitura, pois estes devem ser valorizados na sua condição de “testemunhos de um legado estético” (p. 5). Assim, é fundamental que as crianças e jovens contactem com textos literários que podem estar ligados ao PNL ou ao PRL (no 1.º e 2.ºciclos), como também pelo alargamento do elenco de obras e textos propostos para leitura no 3.º ciclo. E aqui deixo uma nota de apreço ao trabalho desenvolvido pela equipa envolvida no PRL.

Nos processos de leitura do novo Programa de Português, é tido em conta a compreensão na leitura, esta resulta da interacção entre, pelo menos, três factores (Giasson, 1993): Texto/Leitor/Contexto. Esta interacção vai contribuir para que o aluno aprenda a ler fluentemente de forma a ser capaz de descodificar e atribuir significados às palavras. Isto é inegável, mas também é bastante complexo, pois se ao aluno no seu percurso académico não lhe foi permitido construir esta interacção, não é de estranhar a sua dificuldade na compreensão da leitura e nas suas hesitações perante vocabulário e construção frásica. Pelos vistos, será a pedra de toque, nos dias de hoje, nos nossos alunos. Assim, o professor tem uma grande responsabilidade nesta caminhada progressiva do aluno nesta competência, pois o factor “vontade” (ou falta dela) do aluno, também está cada vez mais presente. É preciso motivar para a leitura, e as actividades de leitura deverão ter fundamentos claros e precisos que constituam desafios de aprendizagem. As actividades e projectos de leitura devem também ser sempre orientados para um (ou vários) propósito(s) ou finalidade(s), é para onde nos aponta o novo Programa de Português. No meu caso pessoal, tenho essa preocupação, o aluno precisa de ter um plano de acção para ler um texto e esse plano deve estar adequado ao tipo de texto; pois o aluno tem uma abordagem diferente se for um texto narrativo, um texto poético, um texto expositivo ou um texto argumentativo.

Seguindo esta linha de pensamento, a leitura crítica deve iniciar-se cedo na escola; de facto, importa não só compreender o que o texto diz mas também determinar porque o diz e o que podemos dizer das suas intenções e dos seus propósitos. Ora esta é uma prática que desde sempre me obriguei a seguir, pois o sentido crítico que procuro desenvolver nos meus alunos do 7.º ano, deve dar frutos no 9.º ano, de forma a prepará-los para o secundário, etapa em que lhes é pedida constantemente essa visão crítica do mundo. Daí também haver troca de experiências na sala de aula (ou fora dela) relativamente a títulos de obras que andamos a ler. Logicamente, a obra literária deve estar presente, se considerarmos a “Lua Nova” uma obra literária, é discutível, mas o mundo é dinâmico e o que “hoje é, amanhã talvez não seja”. Assim, como que na senda do achamento de um novo Brasil, procuro apontar caminhos e sentidos, por mais tortuosos que sejam, eles os encontrarão, talvez em primeiro lugar no fascínio do imaginário, e depois nos sentidos implícitos e explícitos que um texto minimamente bem escrito poderá apresentar. Contudo, uma das preocupações a meu ver, e que também nos aponta o novo Programa de Português, tem a ver com o formar uma cultura literária no aluno/leitor. Ora para isso é preciso que o aluno consiga fruir a dimensão estética do texto literário, possa apreciar criticamente esse texto e perceber a sua mundividência. Assim, como já o referi, é necessário uma predisposição do aluno para a prática da leitura que envolva a interacção entre leitor/texto/contexto e de igual modo um acompanhamento do professor bastante aturado.

Em tudo que digo ou faço existe sempre dúvida, será que é por ali? Mas quanto mais reflectimos sobre as coisas, mais caminhos se abrem, portanto é necessário escolher um e seguir em frente… esperemos que esta nova visão das coisas, relativamente à competência da leitura, nos leve a bom porto.

Ainda no decorrer da 3.ª sessão os exercícios de sequencialização partindo da competência foco – leitura, deram-nos uma outra possível abordagem de como podemos associar outras competências à referida, já que todos nós sabemos que todas elas estão interligadas, mas o enfoque momentâneo é para aquela determinada. Ora sendo assim, penso que no acto da sequencialização através de uma grelha poderemos planificação uma aula, balizando aquilo que realmente iremos abordar naquela aula em concreto. Penso que é uma forma aparente de saltarmos de uma competência para outra, mas existe uma certa ordem – daí chamar-se sequencialização. Desta maneira, poderemos trabalhar por competências, seleccionando os descritores desempenho e conteúdos adequados que pretendemos.

Em suma, esta 3.ª sessão, polémicas à parte, foi bastante enriquecedora, tanto na explicitação funcional da competência – Leitura, como nos aspectos práticos abordados pelos formadores – sequencialização. Ainda que subsista algumas dúvidas na forma como deva fazer a minha reflexão, não encontrei outra para vos transmitir o que penso, esperando que estes meus exemplos de “operacionalização” na sala de aula confrontados com os caminhos apontados pelo novo Programa de Português, vos possa dar uma noção de como assimilei a matéria por vós transmitida. Para terminar como diria Fernando Pessoa «Tudo que faço ou medito/Fica sempre na metade./Querendo, quero infinito./Fazendo, nada é verdade.»

Max Teles

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